05/06/2020 18h38

Pesquisadores destacam importância da biodiversidade no Parque Estadual Paulo Cesar Vinha

Foto: Leonardo Merçon/Últimos Refúgios

A história do Parque Estadual Paulo Cesar Vinha (PEPCV), criado em 1990 como Parque Estadual de Setiba, envolve muita dedicação e empenho para conservar um importante remanescente de restinga do Espírito Santo. O parque está localizado em uma região metropolitana, com tanta pressão de impactos, particularmente da expansão urbana.

Os esforços resultam em 30 anos de conservação desse ecossistema, com suas características marcantes de belas paisagens, como dunas, praias, lagoas e laguna, e um arranjo diferenciado da estrutura da vegetação, que propicia ao visitante conhecer a formação da restinga, em arranjos que variam desde a formação de brejo herbáceo até a formação de mata seca, com mosaicos entremeados, de acordo com a topografia do terreno, distância da linha da praia, inundação do solo e profundidade do lençol freático.

“Uma Unidade de Conservação que precisa da continuidade do apoio dos seus pesquisadores, ambientalistas, moradores do entorno, visitantes para seguir como uma área de extrema importância biológica para a conservação da biodiversidade marinha e costeira, que compõe o nosso patrimônio natural capixaba”, considera Joseany Trarbach, bióloga e gestora do Parque Estadual Paulo Cesar Vinha.

Início

Em 1994, Claudio Nicoletti de Fraga, pesquisador do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, começou a pesquisar no Parque Estadual Paulo Cesar Vinha, época em que era aluno de graduação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

“Era a primeira vez como bolsista de Iniciação Científica, orientado pelo professor Oberdan José Pereira, com o projeto intitulado ‘Orchidaceae da Restinga do Parque Estadual de Setiba, Guarapari/ES’. Nesse projeto desempenhava todas as tarefas necessárias para o seu desenvolvimento, desde a coleta dos exemplares de Orchidaceae férteis até a identificação da formação vegetal, como também a identificação dos exemplares coletados e a análise dos dados obtidos”, destaca Fraga.

Em sua opinião, esse momento foi precioso em sua formação, pois em função de trabalhar com as plantas na região de Setiba, passou a manter contato como o pesquisador Dr. Fábio de Barros, do Instituto de Botânica de São Paulo, o maior especialista de orquídeas do Brasil.

Resultados

“Esse projeto me trouxe muitas alegrias, com os seus resultados. Ganhei o Prêmio Verde, principal prêmio de botânica para trabalhos de Iniciação Científica no Brasil, conferido pela Sociedade Botânica do Brasil, assim como o primeiro lugar na área de Ciência da Vida, na VI Jornada de Iniciação Científica e Extensão da Ufes, ambos em 1996. Parte desse trabalho foi rapidamente publicado em artigo e, outra parte, foi o ponto inicial de minha dissertação de mestrado. Assim, posso dizer com toda a segurança que o PEPCV abriu as portas da sciencia amabilis em minha vida”, ressalta Claudio Nicoletti de Fraga.

“Claro que meus resultados não foram importantes para a ciência somente pelo meu esforço de fazer um bom trabalho, mas, principalmente, em função do PEPCV ser realmente um lugar ímpar dentre as áreas naturais de restinga do Espírito Santo, principalmente pelo fato de possuir tantas formações vegetais distintas em uma mesma região”, complementa.

Dentre todas as áreas de restinga que estudou no PEPCV , ele ressalta que a área de restinga é a mais rica em orquídeas ao longo litoral capixaba, com 45 espécies, ficando na frente de todas as áreas do litoral de Linhares, somadas, com 40 espécies, bem como por todas as restingas de Conceição da Barra, com 29 espécies.

Riqueza

“Essa riqueza que se compara com grandes municípios do Estado. É também grande quando comparada com outras áreas de restinga do Brasil, em relação às orquídeas. Sem medo de errar, posso garantir que as areias brancas de Setiba representam o paraíso para as orquídeas de restinga do Espírito Santo”, destaca Claudio Nicoletti de Fraga.

Para a professora titular do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes, Luciana Dias Thomaz, o Parque tem grande interesse científico por abrigar espécies vegetais e animais que foram descritas pela primeira vez, para o conhecimento científico. “Pelo menos três espécies de plantas Ditassa arianae, Heteroptereys oberdanii e Hymenaea fariana, assim como as espécies Chamaecrista blanchetii, C. lansgsdorffii  e Senna pendula são novas citações para a flora do Espírito Santo, fazendo parte de um conjunto de espécies já identificadas, que está em torno de 506”, explica.

Espécies

Considerando que foram reconhecidas para toda a costa do Espírito Santo 1.115 espécies, o Parque Estadual Paulo Cesar Vinha conserva 45,38% dessas espécies. A beleza cênica do Parque, como a trilha que leva até a Lagoa de Caraís, passa por formações vegetais herbáceas, arbustivas e arbóreas.

“Sendo que a chegada até o manancial, tendo que ultrapassar o afloramento rochoso, torna ainda mais prazerosa a caminhada por alcançar uma altura que possibilita uma visão de grande parte desta diversidade de fisionomias, logo atraindo não só os pesquisadores, mas a população capixaba e de outros estados brasileiros e estrangeiros”, considera o professor aposentado da Ufes Oberdan José Pereira.

O Parque Estadual Paulo César Vinha constitui uma importante Unidade de Conservação em restinga e está circundado pela Área de Proteção Ambiental de Setiba (APA de Setiba), que funciona como uma zona de amortecimento de impactos. Apesar disso, sofre pressão antrópica, muitas vezes gerada pela especulação imobiliária e extração ilegal de areia (Maciel, 1990). O Parque é indicado como área prioritária para conservação da biodiversidade, por apresentar alta diversidade biológica e abrigar espécies raras, novas e ameaçadas (MMA 2000).

Trabalhos científicos

Um número expressivo de trabalhos científicos já foi desenvolvido no Parque, iniciando-se pelo conhecido artigo de Pereira (1990) até os de Rodrigues et al, (2019), além de tantos outros referentes à Flora, Fauna, Ecologia, Conservação e Usos e Ocupação do Solo.

“Atualmente, temos depositados 3.720 táxons provenientes do Parque, entre plantas e fungos, no Herbário Central da Ufes (Vies), o que corresponde 80% do material coletado em Guarapari, e 7,7 % de toda a Coleção do herbário”, informa a professora.

Assim, como exposto, o PEPCV apresenta uma extraordinária biodiversidade de ambientes, animais e plantas, sendo um dos ambientes de restinga mais ricos da costa brasileira. Sua conservação é de elevada importância, não só pelos órgãos governamentais, mas por toda sociedade capixaba. Desejamos que os próximos 30 anos nos tragam ainda mais estudos, descobertas e pessoas apaixonadas pelo Parque.

 

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